Liz Truss assume nesta terça como premiê do Reino Unido em meio a crise de inflação

0
79

Britânicos sentem o maior impacto em décadas em seu custo de vida. Preço da energia no inverno preocupa por causa das famílias mais pobres. Liz Truss, ex-ministra das Relações Exteriores, foi escolhida para comandar o Reino Unido no lugar de Boris Johnson
Alberto Pezzali/AP
A nova primeira-ministra do Reino Unido, Liz Truss, assume o cargo nesta terça-feira (5) em um momento em que os britânicos devem apertar os cintos em resposta à inflação descontrolada e aos crescentes custos de energia.
“Sofremos um impacto historicamente enorme no custo de vida e na renda”, aponta James Smith, diretor de pesquisa da Resolution Foundation, em entrevista à AFP.
“A nova primeira-ministra terá que se concentrar na crise atual desde o primeiro dia”, acrescenta.
Nomeação
Na terça-feira (6), em uma ruptura com a tradição, a nomeação da nova primeira-ministra não será no Palácio de Buckingham, em Londres. Ela acontecerá no Castelo de Balmoral, na Escócia, onde a Rainha Elizabeth II passa seus verões.
A monarca de 96 anos teve que reduzir suas aparições públicas este ano devido a problemas de mobilidade e não viajará a Londres.
Liz Truss é a nova primeira-ministra do Reino Unido
Espera-se que Boris Johnson, o atual premiê, faça uma declaração fora de Downing Street, em Londres, na manhã de terça antes de viajar para a Escócia para apresentar sua renúncia à rainha, esperada por volta do meio-dia (7h no horário de Brasília).
Liz, a vencedora da eleição, se reunirá com a rainha e será oficialmente convidada a formar um governo.
Paralisações
Inúmeros setores, de coleta de lixo a advogados, passaram o verão convocando greves para exigir aumentos salariais diante da inflação.
As paralisações foram amplamente apoiadas, mas irritaram alguns britânicos que enfrentaram cancelamentos de trens e supermercados vazios.
E com a aproximação do inverno, muitas casas já temem um aumento exponencial do preço da energia.
“Quase nada parece funcionar no Reino Unido”, escreveu a revista The Economist. E acrescentou: “Isso pode piorar”.
Impacto da inflação
A inflação atingiu 10,1% ao ano em julho, seu nível mais alto em 40 anos, e deve superar 13% até o final do ano.
Marcelo Lins: Maior desafio para Liz Truss é a crise energética
Isso causou a maior queda no poder aquisitivo em duas décadas, enquanto as pessoas com renda mais baixa pagam proporcionalmente mais por produtos como alimentos básicos.
Além disso, em outubro, o regulador de energia permitirá que os fornecedores cobrem até 80% a mais dos consumidores, para refletir os altos preços globais no atacado.
O Reino Unido tem algumas das casas mais antigas e menos eficientes em termos energéticos da Europa, bem como uma lenta implantação de tecnologias verdes.
As famílias mais desfavorecidas costumam usar medidores de energia pré-pagos, que desconectam o fornecimento quando o saldo chega a zero e impedem que os custos de energia sejam distribuídos ao longo do ano, impossibilitando muitas famílias de aquecer suas casas.
“Acho que veremos dificuldades reais e até miséria” neste inverno, adverte Smith.
A Fundação Resolution propôs a aplicação de uma “tarifa social” com desconto de 30% para famílias de renda média-baixa.
A Europa também passa por um grande choque energético e os Estados Unidos estão vendo a inflação disparar.
No Reino Unido, “de certa forma, temos o pior dos dois mundos”, diz Smith.
A Universidade de York calculou que dois terços dos lares britânicos estarão em situação de “pobreza energética” em janeiro, ou seja, pagando mais de 10% de sua renda líquida em energia.
Especialistas alertam para sérias consequências.
“Em questão de semanas, muito mais pais serão confrontados com escolhas impossíveis entre comer ou se aquecer, mas ainda não temos um plano do governo que reconheça a urgência ou a escala dessa crise”, denuncia Dan Paskins, da ONG Save the Children.
Protestos e greves
A multiplicação das greves durante o verão levou a mídia conservadora a traçar um paralelo com a década de 1970, quando greves e protestos se espalharam por todo o país.
No entanto, o Instituto Nacional de Pesquisas Econômicas e Sociais salienta que “os grevistas de 2022 (…) operam a partir de uma posição de fragilidade”.
Atualmente, apenas 23% dos trabalhadores são representados por sindicatos.
Devido ao Brexit, à Covid-19 e a outros fatores, o mercado de trabalho sofre com escassez de mão de obra, com menos trabalhadores do que empregos.
Isso afeta especialmente setores como aeroportos, que demitiram pessoal especializado durante a pandemia e agora não conseguem contratar novos funcionários, o que causou longas filas e a supressão de inúmeros voos.

Fonte: G1 Mundo