Talibãs encontram US$ 12,3 milhões em dinheiro na casa de ex-membros do governo; em Kandahar, berço do grupo, houve protestos

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Segundo a ONU, quase toda a população afegã pode ficar abaixo do limite de pobreza no ano que vem. Milhares de afegãos protestam contra Talibã em Kandahar
O Banco Central do Afeganistão informou, nesta quarta-feira (15), que os combatentes do Talibã entregaram US$ 12,3 milhões (R$ 64,64 milhões) em dinheiro em espécie e várias barras de ouro, recuperados das casas de ex-autoridades do governo anterior, incluindo a do ex-vice-presidente Amrullah Saleh.
“O dinheiro recuperado proveio de funcionários de alto escalão no governo anterior e de uma série de agências de segurança nacional que tinham dinheiro em espécie e ouro em suas casas”, afirmou o comunicado.
Talibãs pedem mais generosidade dos EUA
Os talibãs agradeceram à comunidade internacional, nesta terça-feira, pela ajuda de US$ 1,2 bilhão (R$ 6,34 bilhões) prometida ao Afeganistão. O grupo também e pediram aos Estados Unidos que se mostrem mais generosos.
“Pedimos que continuem ajudando o Afeganistão”, declarou o ministro em exercício das Relações Exteriores do novo Executivo afegão, Amir Khan Muttaqi.
Washington prometeu, na segunda-feira, como parte de uma iniciativa da ONU, quase US$ 64 milhões (R$ 336 milhões) para as organizações humanitárias que trabalham no Afeganistão. Em comparação, o governo americano gastou US$ 2 trilhões em 20 anos de guerra no país.
Segundo Amir Khan Muttaqi, os talibãs ajudaram o exército dos EUA “facilitando sua retirada. Mas em vez de agradecerem, falam de impor sanções ao nosso povo”.
A situação é crítica para milhões de afegãos, que antes da vitória do Talibã já sofriam pelas consequências econômicas de secas, da Covid-19 e de décadas de guerra.
Bandeira Talibã é pintada na antiga embaixada dos EUA em Cabul
Segundo a ONU, quase toda a população afegã pode ficar abaixo do limite de pobreza no ano que vem (97%). Hoje, essa porcentagem está em 72%.
Protestos em Kandahar
Os talibãs anunciaram na semana passada a formação de seu governo, do qual fazem parte vários líderes históricos deste movimento nacionalista e fundamentalista islâmico.
Embora tenham se comprometido a impor um novo governo menos brutal e rigoroso do que o dos anos 1990, os talibãs já reprimiram e proibiram manifestações em grandes cidades do país. Entre elas, várias mulheres exigiam poder continuar trabalhando para alimentar suas famílias.
Centenas dessas mulheres protestaram nesta terça-feira em Kandahar, a grande cidade do sul e berço do movimento do Talibã, contra a decisão das novas autoridades de expulsar de suas casas os militares afegãos e seus familiares, e dar essas casas a combatentes insurgentes.
ONU diz que é preciso dialogar
O secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, pediu na segunda-feira à comunidade internacional para dialogar com os talibãs, apesar das relutâncias de vários países em fornecer ajuda ao governo islâmico ultraconservador dos insurgentes.
“Se quisermos avançar os direitos humanos do povo afegão, a melhor maneira de progredir com a ajuda humanitária é dialogar com os talibãs e usar essa ajuda humanitária para impulsionar a aplicação desses direitos”, disse.
Governo dos EUA se defende
A retirada dos militares do Afeganistão continua gerando polêmica em Washington.
O secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, defendeu sua gestão na segunda-feira em um tenso debate no Congresso, no qual a oposição republicana denunciou uma “rendição incondicional” aos insurgentes.
“Herdamos um prazo, não herdamos um plano”, lamentou Blinken.
Washington informou nesta terça-feira que cerca de 500 “soldados e civis” afegãos foram retirados do Uzbequistão.
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Fonte: G1 Mundo